Os gansos selvagens
TUDO está mudo, já não canta o passarinho.
Sob o céu cinza, está branco o longo caminho.
Corvos procuram suas presas sem descanso,
Reviram a neve e mancham sua brancura.
Eis que de longe vem um clamor nas alturas;
Ele cresce, se aproxima, é a tribo dos gansos.
Como um dardo lançado, o pescoço estendido,
Indo sempre mais rápido em seu voo perdido,
Passam, fustigam o ar com asas sibilantes.
O guia destes tais peregrinos dos ares
De além dos bosques, dos desertos e dos mares,
Como para excitar os seus corpos tão lentos,
De instante a instante lança seu grito estridente.
Como uma dupla fita a caravana ondula,
Rumoreja estranhamente, e pelo céu emula
Um triângulo alado, que vai num crescente.
Mas seus irmãos cativos, na terra espalhados,
Dormentes de frio, caminham gravemente.
Pelo assobio de uma criança guiados,
Qual pesados barcos, balançam lentamente.
Eles ouvem o grito da tribo em compasso,
Eles erguem a cabeça; e, olhando fugir
Os livres viajantes através do espaço,
De repente eles se aprumam para partir.
Agitam em vão suas asas impotentes,
E, eretos sobre os pés, sentem confusamente,
A este chamado, levantarem-se crescentes
A liberdade em seu coração dormente,
A febre do espaço e das mornas viagens.
Sobre a neve do campo, eles correm espantados,
Lançando pelo céu gritos desesperados,
Respondem longamente a seus irmãos selvagens.